Na entrada da década de 2010 vivia-se no Brasil, e especialmente na cidade do Rio de Janeiro, um clima de intenso otimismo pela combinação de fatores como crescimento econômico, mobilidade social, com o surgimento da chamada "nova classe média" e, finalmente, a escolha do país como sede de importantes eventos, a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas no Rio em 2016.
No contexto dos preparativos para as Olimpíadas, o concurso Porto Olímpico propunha a construção de 5.000 unidades residenciais na região portuária do Rio, unidades que atenderiam primeiramente à demanda dos jogos e depois seriam oferecidas no mercado imobiliário. O concurso solicitava ainda um complexo com hotel, centro empresarial e salas comerciais. Para a implantação do conjunto, disponibilizou-se duas áreas no bairro de Santo Cristo, a Leste e a Oeste da avenida Francisco Bicalho.
Nossa proposta para o programa residencial consiste na definição de um conjunto de edificações de distintas tipologias: torres esbeltas sobre embasamento, torre com pátio central e edifício baixo com grande desenvolvimento linear. Com estas tipologias procurou-se resolver, com edifícios altos em sua maioria, o problema da elevada densidade, e permitir o surgimento de áreas livres com boa penetração da luz solar e da brisa proveniente da Baía de Guanabara.
Do ponto de vista do tratamento das fachadas das torres, partiu-se da compreensão de que este deveria ser mais expressivo naqueles pavimentos baixos, nos primeiros 8 andares. De tal modo, a continuidade deste tratamento das fachadas perpassando todos os edifícios desenvolve uma espécie de "rodapé urbano". O rodapé tem por objetivo definir e enriquecer os limites de um recinto urbano que, por sua vez, constitui uma centralidade à qual todo o conjunto residencial se volta para o desfrute da área livre, do comércio e de equipamentos públicos como escola e quadras esportivas. Na "cabeceira" deste espaço – e de certa forma amparando-o – um edifício misto oferece em seus pavimentos inferiores um programa público cultural e de lazer.
No terreno a Oeste da avenida Francisco Bicalho foi implantado o programa comercial. Localizado numa região plana e baixa da cidade, na direção Sul descortina-se o conjunto de montanhas da Floresta da Tijuca e o Corcovado. A estratégia para dar conta deste denso programa consiste então em propor uma espécie de topografia artificial: a remontagem de um morro numa cidade caracterizada pelo desmonte, a exemplo do destino dado aos morros do Castelo e Santo Antônio.
Este "morro artificial", disposto no centro do lote, acolhe um grande volume programático caracterizado por espaços autocentrados, sem relação visual com o exterior. Ao seu redor, edifícios com salas comerciais, centro empresarial e hotéis constituem um perímetro que omite este morro com programas que, por sua vez, voltam-se para o exterior. Por fim, uma praça elevada localizada no topo do morro artificial constitui-se como inusitado espaço público, aberto e cercado por edifícios sobre pilotis, com uma perspectiva privilegiada, para a Baía de Guanabara.
Rio de Janeiro- RJ
Projeto: 2010
Equipe: Diego Portas e Rodrigo Calvino (arquitetos);
Gregório Rosenbusch, Laura Rosenbusch, Carlos Aragão,
Cora Mader e João Samina (estudantes).