Montes Claros é uma cidade na região norte do estado de Minas Gerais, com intensa atividade econômica e oferta de serviços, constituindo-se como uma centralidade regional.  A cidade é assentada sobre área mais ou menos plana, a 700m acima do nível do mar, e semi-circundada, de sudeste a noroeste, por uma serra que eleva um planalto a 1.000m de altitude.
    Esta condição geográfica, de certa planície contida por serras ao redor, estabelece um horizonte distante e limitado, e o limite são estes montes circundantes de suaves contornos.
    O lote onde este projeto é construído possui um leve declive na direção de um córrego recentemente urbanizado. Este desnível permite que desde o fundo do lote se tenha uma vista das redondezas. Na fração norte do lote se cultivou, ao longo dos anos, um bosque com muitas árvores frutíferas. Este bosque dá continuidade a uma pequena floresta contígua, da dimensão de um quarteirão, constituindo uma rara área verde.
    A implantação da casa atende a uma série de intenções, dentre elas:  abrir-se ao nascente e ao poente; buscar no horizonte os limites do território em que se assenta a cidade; e ainda, abrir-se para o bosque ao norte. Estas relações visuais direcionais se estabelecem especialmente no pavimento elevado. Já, no pavimento térreo buscou-se uma relação livre e horizontal com o exterior, de tal modo, caminhando pelo térreo, todo o perímetro do lote pode ser apreendido, com mínimas obstruções. Portanto, se no pavimento elevado o olhar é dirigido para a paisagem ao redor, no térreo ele é disperso, imersivo.
    A materialidade da construção também se define em torno da questão da implantação. Sobre este aspecto, o anel elevado em tijolos maciços cerâmicos que envolve todo o pavimento superior que abriga o programa íntimo, procura continuar com o chão em terra batida de lotes vizinhos, os muros e seus tijolos à vista, o concreto e o asfalto impregnado pelo barro, e o mar de telhados cerâmicos que recobre o território.
    A elevação do anel cerâmico que envolve o pavimento íntimo é resultado de uma operação anterior, a de elevar duas lajes maciças, uma à frente e outra ao fundo, com 6 X 10m e 3 X 10m respectivamente. Enquanto a primeira se apoia sobre um conjunto de elementos em colaboração – um plano obliquo, uma coluna em concreto, dois troncos de Pau Preto (Cenostigma tocantinum) e um plano em tijolos maciços – a segunda se apoia sobre uma linha central de colunas em concreto. Entre estas lajes forma-se um pátio.

Montes Claros/MG - Brasil
Projeto: 2017
Obra: 2021
Arquitetura: Gregório Rosenbusch
Colaboração: Mariana Meneguetti
Estrutura: Ricardo Barelli (Teto Engenharia)
Construção: Construtora Aragão
Fotografias: Federico Cairoli